Caminhos plurais de cuidados com a saúde: medicalizações do simbólico
DOI:
https://doi.org/10.20435/inter.v24i1.3624Palavras-chave:
Medicalização, Psicologia Social, Antropologia da Saúde, Psicologia da Saúde, Atenção à SaúdeResumo
As possibilidades de intervenção no campo da saúde são múltiplas e marcaram a história da humanidade. Nos últimos séculos, o trato da saúde foi atribuído à medicina, que, valendo-se de dispositivos institucionais, jurídicos e científicos, tornou-se preponderante. Um dos pilares dessa profissão está constituído nos processos de medicalização. O presente estudo, de cunho teórico, objetivou problematizar a hegemonia da noção de medicalização baseada no arcabouço médico-científico ocidental. A partir da argumentação foucaultiana acerca das tentativas de padronização dos sujeitos a partir das noções de saúde e de doença pretendida pela medicina ocidental, pontua-se a necessidade de levar em conta as proposições que evocam terapêuticas plurais voltadas para compreender os processos de saúde e adoecimento em outras perspectivas. Elaborado entre duas fronteiras teóricas, o estudo analisa, primeiramente, a constituição histórica da medicina e sua legitimação como saber hegemônico. Na sequência, busca-se matizar as possibilidades de intervenção na área de saúde, dando visibilidade ao que a Antropologia denomina de medicalização do simbólico, que engloba os saberes advindos do cotidiano relacional e afetivo de diferentes culturas. Ao final da trajetória, fomentam-se análises acerca das tentativas de apagamento de modos de existência plurais empreendidas a partir da medicalização hegemônica, discorrendo sobre a relevância de multiplicar perspectivas de intervenção na saúde para superar essa exclusividade, tomando em consideração também os saberes advindos de fontes sociais e culturais.
Referências
AGUIAR, Adriano Aguiar. A psiquiatria no divã: entre as ciências da vida e a medicalização da existência. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual de implantação de serviços de práticas integrativas e complementares no SUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CANABARRO, Rita de Cássia dos Santos; ALVES, Márcia Barcellos. Uma pílula para (não)
viver. Revista Mal-Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 9, n. 3, p. 839-66, set. 2009.
CAPONI, Sandra. Classificar e medicar: a gestão biopolítica dos sofrimentos psíquicos. InterThesis, Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 101-22, jul. 2012. DOI: https://doi.org/10.5007/1807-1384.2012v9n2p101
CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas. São Paulo: Ubu, 2017.
FIGUEIREDO, Luís Claudio; SANTI, Pedro Luiz Ribeiro de. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 1997.
FOUCAULT, Michel. História da Loucura. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2019.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 7. ed. São Paulo: Paz & Terra, 2018
GUATTARI, Felix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LACERDA, Maria. Medicina tradicional praticada por rezadeiras, pajés e herboristas: outros saberes a ser respeitados pelo saber acadêmico. Revista Saberes da Unijipa, Ji-Paraná, v. 2, p. 1-22, dez. 2015. Disponível em: https://unijipa.edu.br/por-que-a-unijipa/revista-saberes/edicao-2/. Acesso em: 10 nov. 2019.
LANGDON, Ester Jean. A doença como experiência: a construção da doença e seu desafio para a prática médica. Florianópolis: UFSC, 2009.
LANGDON, Esther Jean; WIIK, Flávio Braune. Antropologia, saúde e doença: introdução ao conceito de cultura aplicado às ciências da saúde. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 18, n. 3, p. 173-81, jun. 2010.
LÉVI-STRAUSS, Claude. A eficácia simbólica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
PAIM, Jairnilson Silva. Silva. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EdUFBA, 2006.
PEGADO, Elsa. Medicinas complementares e alternativas: uma reflexão sobre definições, designações e demarcações sociais. Sociologia, Problemas e Práticas, Lisboa, v. 93, n. 1, p.1-19, ago. 2020.
EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
ROLNIK, Sueli. Subjetividade e história. RUA, Campinas, v. 1, n. 1, p. 49-61, jun. 2005. DOI: https://doi.org/10.20396/rua.v1i1.8638916
RUSSO, Jane. O corpo contra a palavra: as terapias corporais no campo psicológico dos anos 80. Rio de Janeiro: UFRJ, 1993.
SANTOS, Francieli Lunelli. Indústria farmacêutica durante os anos (nem tão) dourados: Euforia e desencanto (1950-1960). Temporalidades, v. 12, n. 2, p. 155-84, ago. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/24013. Acesso em: 10 nov. 2019.
TELESI, Emílio. Práticas integrativas e complementares em saúde. Estudos Avançados, São Paulo, v. 30, n. 86, p. 99-112, abr. 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.00100007
TONIOL, Rodrigo. Do espírito na saúde. 2015. 314p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Su (UFRGS), Porto Alegre, 2015.
VENÂNCIO, Ana Teresa. A construção social da pessoa e a psiquiatria: do alienismo à “nova psiquiatria”. Physis – Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 117-35, dez. 1993.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Gabriel Bandeira Cantu, Eneida Santiago, Sonia Regina Vargas Mansano

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.