O setor agroextrativista e o Brasil no sistema-mundo capitalista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/inter.v26i2.4426

Palavras-chave:

divisão global do trabalho, sistema-mundo, semiperiferia, complexidade econômica

Resumo

A fração capitalista que corresponde ao agronegócio brasileiro constantemente se coloca numa posição de pretensa centralidade econômica, clamando, assim, por um papel relevante no desenvolvimento econômico nacional que justificaria seus achaques sobre o Estado. Mas o que se observa historicamente é a manutenção do Brasil como nação subalterna no plano internacional, levantando a questão de qual seria a responsabilidade do agronegócio nesse ciclo vicioso. Este artigo empírico tem por objetivo geral analisar as possíveis relações entre o peso e a participação do agro na fixação do lugar ocupado pelo Brasil na divisão mundial do trabalho (DMT) da economia-mundo capitalista. Parte-se das premissas da análise de sistema-mundo para tentar estabelecer critérios objetivos que permitam subsidiar de forma quantitativamente empírica o entendimento de que o Brasil seria uma economia semiperiférica estacionada pelo desproporcional peso de seu setor agroextrativista. Essa investigação se desenrola a partir de uma abordagem quali-quanti de orientação sócio-histórica: (I) análise das pautas de comércio exterior do país, por meio da exposição visual e discussão da estrutura da pauta de exportação; e (II) análise de cluster dos índices de complexidade econômica de um rol de países, para formação de grupos por aproximação de complexidade. Isto para identificar a posição do Brasil na divisão mundial do trabalho. Como resultado, infere-se que o peso desproporcional do setor agroextrativista na economia brasileira, evidenciado a partir da pauta exportadora, contribui para manutenção do país como nação em situação de semiperiferia, o que fica caracterizado pela análise de cluster realizada.

Biografia do Autor

Rômulo Carvalho Cristaldo, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Doutor em Administração pelo Núcleo de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia (NPGA/UFBA). Mestre em Administração também, pelo NPGA/UFBA. Bacharel em Administração pela UFBA. Professor do Magistério Superior da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Universidade Federal da Grande Dourados (FACE/UFGD). Coordenador do grupo de pesquisa Estado, Governança e Administração Pública (EGAP) da UFGD.

Adriana de Almeida Cristaldo, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Mestre em Administração Pública pelo Mestrado Profissional em Administração Pública em Rede Nacional da Universidade Federal da Grande Dourados (Profiap/UFGD). Bacharela em Direito pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Servidora da UFGD. Pesquisadora do grupo de pesquisa Estado, Governança e Administração Pública (EGAP) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Élcio Gustavo Benini, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Mestre em Agronegócios pela UFMS. Especialista em Planejamento e Tutoria em Educação a Distância pela UFMS. Graduação em Administração pelo Centro de Ensino :Superior de Maringá. Professor da Escola de Administração e Negócios (ESAN), da UFMS. Líder do Grupo de Pesquisa sobre Organizações, trabalho e educação (GEPOTE). Atua nos Programas de Pós-Graduação em Administração (Ppgad) e em Administração Pública em Rede Nacional (Profiap), ambos na UFMS.

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Publicado

2025-08-08

Como Citar

CRISTALDO, Rômulo Carvalho; CRISTALDO, Adriana de Almeida; BENINI, Élcio Gustavo. O setor agroextrativista e o Brasil no sistema-mundo capitalista. Interações , Campo Grande, v. 26, p. e26194426, 2025. DOI: 10.20435/inter.v26i2.4426. Disponível em: https://multitemasucdb.emnuvens.com.br/interacoes/article/view/4426. Acesso em: 15 ago. 2025.